Modelo de interpretação da evolução da Depressão de Mirandela
O conjunto de dados geomorfológicos e sedimentológicos obtidos na região de Mirandela, sugere a seguinte sequência de acontecimentos:
- A formação de uma escarpa tectónica, hoje recuada e erodida, correspondente à falha de Mirandela, responsável por um desnível topográfico mais acentuado. Uma falha ou falhas subparalelas à anterior, limitam a depressão de Mirandela a oeste.
- Os processos que conduziram à deposição dos sedimentos que constituem a Formação de Bragança, desenrolaram-se sob clima caracterizado por períodos de precipitação intensa, mobilizando rapidamente os sedimentos em cursos de forte gradiente, impondo um reduzido desgaste, com rápida perda do poder de transporte ao atingir a depressão; a predominância de finos no topo do Membro de Castro, deverá representar um intervalo de tempo em condições de estabilidade tectónica.
- Um impulso tectónico é sugerido pelo carácter grosseiro e ravinante do Membro de Atalaia.
- A evolução desses depósitos terá ocorrido em condições predominantemente endorreicas que favoreceram a génese e preservação da esmectite.
- Uma nova fase tectónica é evidenciada pelo basculamento da Formação de Bragança.
- Como hipótese, admite-se que este último impulso poderá relacionar-se com a abertura desta pequena bacia a um regime definitivamente exorreico, de características fluviais, representado pela Formação de Mirandela. As características desta unidade apontam para condições de clima temperado a quente e húmido, durante o espaço correspondente à deposição de toda a série, de que é visível em afloramento uma espessura de 30 metros. Esta unidade não evidencia ter sido afectada tectonicamente. O contínuo carácter grosseiro do enchimento, sem tendência granulométrica, sugere a adaptação ao encaixe da rede exorreica como resultado do soerguimento regional.
- Da regularização do perfil da depressão resulta um aplanamento do seu flanco oeste. Sobre esta superfície assentam os depósitos de Sucçães (Formação de Aveleda provável); a sua origem poderá ter precedido o actual encaixe fluvial.
- Os depósitos de Sucçães são claramente mais antigos do que os materiais detríticos, confinados à vertente sul da serra de S. Comba, regularizando o perfil, e com características predominantemente quartzíticas e ilíticas. Este tipo de depósitos recentes, na base dos relevos residuais, ocorre também na serra de Reboredo, nas proximidades de Moncorvo. Aí, para além dos depósitos de Souto da Velha (Formação de Aveleda), diferenciam-se esses depósitos recentes na vertente da serra, mas em ambos os casos constituídos por calhaus de hematite provenientes dos níveis quartzíticos ordovícicos.