A geomorfologia da depressão de Mirandela

Os rios Rabaçal e Tuela, poucos quilómetros a jusante das suas nascentes em território espanhol, apresentam já um leito encaixado nos terrenos montanhosos fronteiriços. Com percursos paralelos e caudais semelhantes, abandonam os seus vales encaixados cerca de 30 km para sul, ao penetrarem numa larga depressão com cerca de 20 Km de largura. À priori, não seria evidente a origem tectónica desta depressão, que poderia resultar simplesmente da erosão lateral provocada pelos dois rios circulando num corredor NNE-SSW. Contudo, tem sido referida a sua natureza neotectónica (Cabral et al., 1983; Cabral, 1985; 1986; Pereira, 1997; 1998). A movimentação tectónica afecta também os depósitos que a preenchem e a configuração em graben, definida por blocos limitados por falhas NNE-SSW, sugere que os rios drenaram uma bacia pré-existente. A depressão estrutura-se fundamentalmente a partir de uma falha principal N-S, no sector Torre de D. Chama-Carvalhais-Mirandela. Falhas subparalelas situadas para leste, limitam blocos escalonados a altitudes diversas, até ao nível da superfície fundamental transmontana, situada entre os 700 e os 800 metros. Mais para leste, define-se a depressão de Macedo de Cavaleiros, cujo nível de base se situa cerca de 300 metros acima do nível de base da depressão de Mirandela. O carácter activo da falha de Mirandela é evidenciado pela sua sismicidade, de que é exemplo o sismo de 1958 com epicentro situado entre Romeu e Mascarenhas e intensidade V da escala de Mercalli-Sieberg (Cabral, 1985).

Para oeste da falha principal, define-se uma superfície basculada no sentido do centro da depressão. Este bloco mergulha para leste, onde está limitado pela escarpa de falha de Mirandela (Cabral et al., 1983). A superfície suporta um estreito nível de sedimentos provenientes da erosão dos relevos da serra de S. Comba - depósitos de Sucçães (ver panorâmica). Outros relevos de menor expressão e situados a norte (Rio Torto), alimentaram uma pequena mancha independente das anteriores. A serra de S. Comba, que se eleva um pouco acima dos 1000 metros, constitui uma relevo residual quartzítico, sendo evidente a actual fase de regularização do seu perfil, com acumulação na vertente sul, de um depósito recente, conglomerático, de matriz essencialmente siltosa e ilítica (depósitos de Santa Comba - ver panorâmica). Os quartzitos que constituem este relevo têm continuidade para NW, até à serra da Padrela. O maciço granítico que constitui o sector norte desta serra, prolonga-se para leste até Valpaços e Torre de D. Chama. É neste sector, em pleno substrato granítico, que os rios Rabaçal e Tuela perdem o seu carácter encaixado. Para jusante, cortam uma banda de rochas quartzíticas, ao longo de uma rede de fracturas ortogonais. O rio Tua tem origem na confluência do Rabaçal e do Tuela, 2 Km a norte de Mirandela. De entre os seus afluentes, salienta-se a ribeira de Carvalhais com origem no flanco sul da Serra da Nogueira. Após atravessar o maciço granítico de Romeu, instala-se, no seu sector final, sobre a falha de Mirandela.

O abatimento da depressão em cerca de 300 metros, é também evidenciado pela posição das banda quartzítica relativamente às mesmas litologias situadas a oeste. O rio Tua, que percorre cerca de 40 Km até atingir o rio Douro, volta a evidenciar um vale encaixado já próximo da sua foz, a partir do ponto de estrangulamento ou fecho da depressão. A principal acumulação de sedimentos situa-se no centro da depressão, a norte de Mirandela (Formação de Mirandela), junto à confluência dos rios Rabaçal e Tuela e um pouco mais a norte no interflúvio definido entre o Tuela e a ribeira de Carvalhais (Formação de Bragança).

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