SEXUALIDADES E EDUCAÇÃO SEXUAL
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4. Reportagem em Fotografia: "Sexualidade: As nossas visões"

Recepção dos participantes | Abertura da palestra e Apresentação dos resultados do questionário | Prevenção da gravidez não desejada e prevenção das doenças de transmissão sexual

Lanche e Enquadramento psicológico da primeira relação sexual e da homossexualidade


A Marta agradece ao Dr. Constantino Santos e convida os participantes para um lanche








Lanche

Algumas das nossas mães fizeram e ofereceram os bolos. A escola ofereceu os sumos, a água e o café.
Foi divertido preparar o lanche e ainda mais divertido fazer este intervalo. A professora Cândida perguntou-nos se stávamos a gostar. Alguns de nós disseram que foi da parte que gostaram mais. Falámos uns com os outros, com os professores, com o médico, com a psicóloga e com a coordenadora do projecto da Universidade do Minho. Pareceu-nos que os adultos também estavam a gostar. Infelizmente o intervalo teve que acabar e regressámos à palestra para ouvir a psicóloga.


Apresentação da Dra. Paula Carvalho
O Rui apresenta a nova conferencista: " A Drs. Paula Carvalho é psicóloga, licenciada pela Universidade do Minho, com especialização em Psicologia Clínica; Docente na Escola Superior de Enfermagem Calouste Gulbenkian – Braga;Formadora de professores do Centro de Formação de Esposende; Responsável do Serviço de Psicologia e Orientação do Agrupamento de Escolas do Prof. Carlos Teixeira.






Queria agradecer o convite que me foi endereçado. (...) Para ir de encontro ao tema que me foi proposto "Enquadramento psicológico da primeira relação sexual e da homossexualidade" gostaria de começar a minha apresentação pelo conceito de sexualidade e lançar algumas ideias para reflexão sobre os temas que me foram propostos para que no final possa haver um debate enriquecedor para todos.

















"Sexualidade é muito mais do que sexo, como já aqui foi dito, não é só coito. Esta ideia também aparece em muitos adultos, esta ideia restrita de que a sexualidade é apenas o coito".
Para a maioria das pessoas, falar de sexualidade remete imediatamente para o acto sexual e a reprodução. Mas a sexualidade é muito mais abrangente. Pode ser definida como uma forma de expressão dos afectos, uma maneira de cada indivíduo se descobrir e descobrir os outros.















Pediram-me para abordar duas questões muito específicas que eu gostaria de discutir aqui, contrariando a ideia da sexualidade como um tabu: Inicialmente vamos falar sobre a primeira relação sexual e o segundo tema será a homossexualidade.
O doutor já abordou muito esta questão da primeira relação sexual. Eu não vos vou massar muito mais em relação a isto. (...) O que é que alguns autores em psicologia costumam dizer? É que a tomada de decisões importantes e complexas e a "intimidade real " com um parceiro só são possíveis - depois de completo o processo de formação da identidade. Aqui estou a restrigir à tomada de decisão de ter a "primeira relação sexual", mas há muitas tomadas de decisão sobre a primeira vez, como por exemplo, o primeiro beijo, as primeiras carícias, etc. As tomadas de decisão sobre a primeira relação sexual devem ser tomadas quando o processo de identidade está completo e este processo de identidade está completo por volta dos 18 anos. Provavelmente vocês estão a pensar: "Será que a psicóloga aqui da escola nos está a querer dizer que só podemos tomar uma decisão a partir dos 18 anos?" Não é isso que nós queremos impingir. Não é esta a realidade. A realidade é que o uso de contraceptivos tende a aumentar com a idade. A realidade é que, em vez de falarmos numa idade certa para ter a primeira relação sexual devemos é falar sobre o que é que não deve condicionar esta decisão.


O que é que não deve condicionar a decisão de ter a primeira relação sexual
- Tentar curar a solidão e a infelicidade. Às vezes aparecem-nos jovens que por se sentirem carentes procuram esses relacionamentos como um escape.
- Ser mais popular. Às vezes também é a ideia de que se aquele que já teve muitas namoradas, ou pelo menos afirma que as teve, é popular, então ele também quer ser, fazendo o mesmo. Isto é mais verdadeiro para os rapazes. Se as raparigas disserem isto podem-se "meter em alguns sarilhos".
- Usar o sexo físico para evitar o isolamento e a falta de relacionamentos. Muitas vezes aparecem-nos jovens, pela minha experiência especialmente raparigas, que como não conseguem manter relações de amizade e estabelecer parcerias acabam por restringir os seus relacionamentos com os outros apenas ao namorado.
- Provar que não se é... (homossexual) ... . Ás vezes também se tem relações sexuais para se provar alguma coisa: que não se é o único que ainda não teve relações sexuais; porque há suspeitas de que se pode ter uma orientação sexual diferente daquela que se diz que é correcta, etc.
Ainda há outras questões...




Efeito da televisão sobre a decisão de ter a primeira relação sexual: "Esperar descobrir o "fogo de artifício" que se vê na TV e em discos, filmes, revistas e livros; acreditar que a primeira vez não é assim tão importante e então "vamos a isto!" ; não fazer boas avaliações porque bebes muito ou tomas outras drogas".

Ás vezes como vocês sabem, a televisão tem o seu lugar de entretenimento mas também tem algumas mensagens preversas. O que é que aparece nos filmes e nas novelas juvenis? Que a primeira relação sexual, que o sexo é aquela coisa fantástica, fabulosa, estrondosa... então, porque é que eu não experimento? Ou então, se parece que a primeira vez não é assim tão importante e o namorado até anda a pressionar, porque não a ter? Também não quero dar aqui a ideia que a primeira relação vos vai marcar para sempre, mas de facto, talvez seja importante ponderar esta decisão. Até porque, independentemente do acto em si há sempre as consequências e essas vamos sempre ter que contar com elas.
Há outro problema, que é os filhos quererem sair à noite e os pais não deixarem. Às vezes, associado a estas saídas está o consumo de álcool e o uso de outras substâncias que podem dificultar as decisões e surgirem comportamentos de que no dia seguinte se arrependam...


E portanto a questão que se coloca é: Estará na hora? Quais são as crenças associadas, os tabus, os medos? Quem decide és tu!

O ideal não existe. A altura ideal tem que ser decidida por cada um de nós, de uma forma consciente, que seja trabalhada no contexto da relação com o outro. As meninas não devem ir à consulta do planeamento familiar sozinhas, devem ir com o parceiro. Devemos escolher a pessoa de quem gostamos, que nos respeite, com quem decidimos que o passo deve ser dado. Apesar de toda esta ponderação a realidade ultrapassa as nossas decisões e, às vezes, os jovens vêm ter connosco e dizem "Pois é, afinal eu estava a ponderar ter com uma pessoa e afinal foi com outra!" Acontece muitas vezes de forma inesperada.

Também queria falar sobre a primeira relação sexual. E os medos? E os receios? Será que vai doer? Nós estamos sempre a dizer: "decidam-se, pensem bem, usem contraceptivos..." Mas os jovens dizem, "Mas na altura eu estava preocupada é como é que ia ser, porque era a primeira vez. Eu estava preocupada é se ele ia gostar do meu corpo, se ia correr bem..." Todas estas questões, às vezes dificultam as precauções, mas as consequências vão lá estar sempre. Nunca se podem esquecer disso: as DSTs e a possível gravidez. Costumamos pensar que tudo o que é mau só acontece aos outros e como sabem isso não é verdade.


Outra das crenças subjacente à primeira relação sexual é: O que é que muda em mim após a 1ª relação sexual?

O teu corpo não se altera em nada porque tiveste relações sexuais. Talvez te sintas diferente, mas só porque... ou as noites são mal dormidas porque se está a pensar no que aconteceu... porque o coração está a palpitar porque se está apaixonado... claro que a nível afectivo há mesmo alterações. Às vezes é o chegar à escola e pensar: "Mas será que as minhas colegas vão notar?" e por isso há uma certa timidez e um certo embaraço, que é fruto daquilo que nós estamos a julgam que os outros podem estar a imaginar e não fruto das alterações que podem surgir em nós próprios. Às vezes também há uma certa falta de concentração nos estudos e convém salientar que é muito importante esforçarem-se por estarem concentrados.


E falando da primeira relação sexual vem sempre à ideia a virgindade. Mas afinal o que é a virgindade?

Ser virgem é algo sentido individualmente, é um conceito muito pessoal.

Para muitos será nunca ter tido relações sexuais, para outros é o rompimento do hímen (claro está, nas raparigas!).

Mas se procurares numa enciclopédia ou um dicionário, descobres: virgem = pessoa que nunca teve relações sexuais.

Vocês repararam que quando os vossos colegas falaram das vossas respostas nos questionários uma grande percentagem considerou que ser virgem é só para elas. Até que elas têm que chegar ao casamento e ir de véu e de flor de laranjeira. Hoje em dia essas concepções estão cada vez mais ultrapassadas. Eu diria que ser virgem é algo sentido individualmente, é algo muito pessoal. Embora se vocês foram ao dicionário o que lá está é que ser virgem é quem nunca teve relações sexuais e, claro está, não só nas raparigas mas também nos rapazes. E vale a pena acrescentar aqui algumas questões. Se para uns estas ideias é pelo que ouvem lá em casa - da rapariga chegar virgem ou pura ao casamento - para outros ter relações sexuais permite também estar a ganhar experiência em termos emocionais e afectivos e tudo isso faz parte do nosso crescimento como pessoa.

Por outro lado também quero destacar que às vezes também há a noção: "Ah! Mas tu és virgem? Nessa idade?" E há o sentimento nos jovens: "Mas já tenho 18 anos e ainda não tive relações sexuais". E quando o tempo vai avançando, por exemplo alguém que já tem 25 anos e nunca teve relações sexuais, começa a ficar preocupado. muitas vezes aparecem-nos histórias, por exemplo, eu já tive algumas dessas experiências na consulta: está tudo bem com ela, mas a única coisa que não está bem é porque nunca teve relações sexuais. Quando eu falo de relação sexual estou a falar de acto sexual.

Depois poderão levantar questões sobre esta temática. Agora passaria ao segundo ponto da nossa agenda.


Homossexualidade. Para isso convido-os a lerem o seguinte texto do livro de Daniel Sampaio (2003) "Vagabundos de Nós":

"Diogo nasce. Diogo cresce. Luisa observa-o em permanente sobressalto. Diogo é diferente. Nas atitudes, nos gostos, na sensibilidade, nas amizades que procura. Sente-se perdido... Luísa apercebe-se do sofrimento e dos permanentes conflitos íntimos do filho... Mas tem relutância em admitir quilo que, afinal, sabe. Sempre soube... ... só tardiamente as palavras cruamente descodificadoras de tanta amargura aconteceram: - Mãe, sou homossexual... - Diogo que fazer???"

Este é um livro que fala do drama de alguém que se descobriu homossexual. Iste é um drama não só em termos pessoais mas também familiares. Porque é verdade, não vamos dourar a pílula, os pais que descobrem que têm um filho homossexual ficam com todos os seus planos estragados. Os pais esperam que as filhas namorem com rapazes e os filhos com raparigas... e fazem todos os planos para um dia casarem, terem filhos e ficarem com netinhos... Portanto, quando enfrentamos uma situação diferente, é muito difícil lidar com ela e há um sofrimento muito forte, muito intenso que envolve estas situações. Felizmente algumas pessoas já aceitam, já tenho atendido casos em que os pais dizem: "Eu aceito o meu filho, a orientação sexual é só um aspecto da sua personalidade". Mas habitualmente as situações não são estas. Posso contar que uma vezme apareceu no consultório uma senhora que me dizia: "Mude-me o meu filho, cure-me o meu filho, porque assim eu não o aceito." Ele tinha-lhe dito há pouco tempo que era homossexual. Tinha 22 anos. Como lhes digo, muitas vezes o pedido dos próprios e dos pais, eu diria da sociedade em geral, é que tenhamos umas soluções mágicas, tipo "tirar o coelhinho da cartola" e que encontremos uma solução para que o rapaz que tem relações sexuais com outro rapaz mude e passe a ter uma namorada e, nas raparigas passa-se o mesmo.
Eu levantei aqui algumas questões sobre a homossexualidade...


Afinal o que será isto da homossexualidade?

Será uma doença? É uma perversão? É uma tara que algumas pessoas têm? São os amigos, porque nos relacionamos com eles e têm este tipo de comportamento? Será culpa dos pais?

Muitas discussões vão sendo feitas e têm-se muitas opiniões sobre este assunto. Mesmo em termos científicos o entendimento sobre a homossexualidade tem mudado. Actualmente ninguém considera a homossexualidade como uma doença, mas isto é um dado muito recente, é da década de 90.

Portanto, o que é que entendemos que é a homossexualidade? Se calhar apenas uma orientação sexual.
Quando os convidei a lerem aquela parte do texto do Doutor Daniel Sampaio, tinha a indicação que a mãe sentia que o filho era diferente, mas eu diria que uma pessoa homossexual pode ser exactamente igual a todos nós. E não é pela sensibilidade, pela cara ou pelos gostos que vão descobrir se é homossexual ou heterossexual. Como eu vos dizia actualmente estamos de acordo que é apenas uma orientação sexual. E de acordo com os dados que vão existindo, estima-se que 10% da população tem uma orientação homossexual. Portanto, ser homossexual são:

Aqueles que orientam a sexualidade e em termos afectivos preferem pessoas do mesmo sexo, são homossexuais.

A homossexualidade pode ser entre dois rapazes ou entre duas raparigas, Mas também temos aquelas pessoas que em termos sexuais e mesmo afectivos, mantêm o interesse em pessoas dos dois sexos, são os bissexuais. E aqueles cuja afectividade e sexualidade em termos globais está orientada para pessoas do sexo oposto, são heterossexuais.

Para finalizar ia só falar de outra questão que também me foi pedida. Saímos da questão da homossexualidade.

Parece que subsistem muitas dúvidas nos vossos questionários em relação à Transexualidade. Os transexuais são pessoas em que o género e o sexo não são coincidentes. O que é que isto representa? Já atendi dois casos deste tipo. São pessoas que não se identificam com o seu sexo. É, por exemplo, um rapaz, que nasceu XY, mas todas as suas pulsões, gostos e desejos estão voltados para o sexo feminino. Muitas vezes em que é que resulta esta transformação? Muitas vezes chega à cirurgia dos órgãos sexuais. Voltando um bocadinho atrás... Quando falámos de homossexualidade não estávamos a falar de nenhum tipo de doença, mas quando estamos a falar de:

Transexuais é uma perturbação de identidade de género

Representa uma profunda perturbação da identidade do sujeito no que diz respeito à masculinidade e feminilidade

Critérios
A. Uma persistente e forte identificação de género cruzada
B. Desconforto persistente com o seu sexo ou sensação de ser inapropriado ao papel de género desse sexo
C. A perturbação não coexiste com umestado físico intersexual.
D. A perturbação causa mal-estar ou dificuldade clinicamente significativa no funcionamento social, ocupacional ou noutras áreas.


Quando falámos de homossexualidade

DISCRIMINAÇÃO. PORQUÊ? Um texto do mesmo livro que já lhes falei, relata as situações porque teve de passar na escola. O Ele sabia que se assumisse a homossexualidade, que até para ele era difícil assumir, iria passar pelas mesmas situações que um seu colega, o Rafel, passava na escola:

"... o Rafael. Ficaste chocada mãe quando te disse que lhe chamavam o mariconço da escola... Uma semana depois encontrei-o na casa de banho... de joelhos no chão, preso por dois colegas mais velhos, as lágrimas caiam dos seus olhos cansados... Fugi o mais depressa que pude. Não queria que se soubesse que podia ser eu. Um dia tudo se ia passar comigo, tive a certeza."

E depois, ele dizia em jeito de conclusão à mãe, este jovem já com 22 anos: "Eu percebo que a escola tem uma verdadeira aprendizagem de desprezo". Eu trabalho na escola e facto, os miúdos às vezes só porque são diferentes, e não é só pela orientação sexual, por exemplo, os miúdos das necessidades educativas especiais, só porque são diferentes acabam por passar por verdadeiros dramas todos os dias, porque a escola não consegue ter um papel protector em relação a todos nós.


Para terminar, em termos de conclusão, se precisarem de ajuda:

FALA COM ALGUÉM EM QUEM CONFIES E RESPEITES - EM CASA, NA ESCOLA, ...


OS TEUS PAIS NUNCA FALARAM CONTIGO SOBRE SEXO? TALVEZ ESTEJAM À ESPERA QUE TU PERGUNTES. VALE A PENA CORRER O RISCO.

EXISTEM CENTROS DE SAÚDE, CENTROS DE ATENDIMENTO DE ADOLESCENTES E CONSULTAS DE PLANEAMENTO FAMILIAR ONDE PODES FALAR COM ALGUÉM QUE TE ACONSELHE.

SEXUALIDADE EM LINHA - 800 222 002.

LINHA SOS ADOLESCENTE - 800 202 484 (DAS 10 ÀS 13 HORAS)
DEBATE

Aluna: Eu acho que muitas vezes os alunos têm vergonha de ir à psicóloga. Só o facto de ir à psicóloga já recebe o rótulo. Eu acho que tem razão, que devíamos falar com a psicóloga, mas por essas razões não falámos.

Psicóloga: Como vocês sabem, os serviços de psicologia aqui na escola são algo complexos e algumas escolas nem sequer têm psicólogo. Mas gostava de lhes dizer que cada vez é mais normal ir ao gabinete da psicóloga. Acho que lentamente estámos a contrariar essa percepção.

Aluna: Eu gostava de saber quais as causas para a homossexualidade.

Psicóloga: Eu não sei responder. Não sei se alguns dos presentes sabe responder. Ninguém sabe responder. Agora há algumas ideias que já estão colocadas de lado, como por exemplo, a ideia de que é por influência dos amigos, não pode ser só isso. Se é culpa dos pais? Já houve muitas teorias sobre as dinâmicas familiares para explicar a homossexualidade, não foram conclusivas. Não há actualmente um única explicação, há apenas alguns factores que já foram eliminados, como por exemplo, ser uma doença.

Aluna: Eu gostava de saber porque é que os rapazes para a homossexualidade entre rapazes dizem "Ai que nojo", mas se for entre duas mulheres eles já gostam (risos na sala).

Psicóloga: Isso é uma ideia que aparece um pouco na sociedade em geral. Aliás eu fiquei preocupada quando vi no vosso questionário que 6% dos alunos diziam "nem queremos contacto com eles". A dimensão sexual é apenas uma característica da pessoa. E se ela for boa pessoa? For amiga? O problema é que nós temos sempre receio daqueles que são diferentes de nós. Eu, por exemplo, não gosto do conceito de "tolerância", porque parece que estámos a "tolerar alguém", que estamos a "fazer um favor a alguém" e não estamos. Estamos a respeitar porque todos somos diferentes.

Professora: A experiência que tenho como professora é que as meninas aceitam melhor a sexualidade do que os rapazes. Os rapazes fazem questão de fugir de qualquer possibilidade de serem confundidos com eles.

Aluna: Devemos falar com alguém antes de ter a primeira relação sexual?

Psicóloga:
Se entenderem. pelo menos com o parceiro ou parceira (risos na sala), agora com outras pessoas, só se entenderem, depende do tipo de relação que têm com elas.

Aluno: Eu acho que há homossexuais que se tornam homossexuais só para chamar a atenção e ser famosos.

Aluna: Porque é que os pais não falam sobre o namoro com os filhos?

Psicóloga: Muitas vezes eu diria que os pais também não sabem lidar muito bem com a situação, a verdade é essa, e às vezes os jovens também não sabem que os pais não têm respostas para tudo e não sabem lidar com tudo. Por serem adultos e por serem pais e serem mães, às vezes eles próprios sentem medos e não sabem dar resposta às situações e, tal como os jovens, às vezes arranjam assim, uma solução imediata para lidar com determinada circunstância em relação à qual não sabem gerir muito bem e, depois, porque eventualmente também não querem valorizar demasiado, não são capazes nesse momento de se aperceber das angústias e do sofrimento que de facto determinadas relações que os seus filhos possam estar a ter, por muito passageiras ou por muito fugazes que possam ser, trazem emoções a reboque, não é? E, depois, porque, eles eventualmente têm a noção de que na adolescência se há relações que são duradouras no tempo, grande parte delas também não o são, são temporárias, mas isso não significa, eu concordo com esta ideia, isso não significa que não tragam grandes dilemas, grandes angústias, sofrimento, portanto, acho que devíamos valorizar isso, não é?

Aluna: Porque é que os pais não aceitam bem a homossexualidade dos filhos?

Psicóloga: Eu diria pelas mesmas razões que nós falamos há pouco, não é? Mas nos seus próprios filhos, ou em geral, é isso que eu não percebi?

Aluna: Em geral.

Psicóloga: Eu diria que pelas mesmas razões que nós apontávamos há pouco, a questão da diferença, quando falamos em relação aos próprios filhos, mesmo de uma maneira, vou empregar o termo inconsciente, todos os pais, há aqui pais, corrijam-me se eu estiver enganada, quando têm os seus filhos estão à espera que o rapaz tenha namoradas e a rapariga tenha rapazes. Por muito que possa ter o discurso de dizer," Ai eu aceitaria se esse cenário fosse diferente", vai ser um choque e vai ser uma adaptação que vai ter que fazer.

Aluna: Sei que há muitos pais que, por exemplo, têm na turma do seu filho um homossexual e não querem que o seu filho seja amigo do homossexual.

Psicóloga: Primeiro, porque às vezes tem a ver com o medo de que podem ser influenciados, o que não faz nenhum sentido. Mas eu diria que também pode ser pela velha questão da diferença, nós aqui na escola, em todas as escolas também nos defrontamos com problemas eu diria similares, por exemplo se falarmos em integrar uma criança com determinado tipo de deficiência numa turma, também temos as mesmas resistências, é a diferença.

Aluno: Eu acho que o problema às vezes é haver, se pensarmos no presente, é haver ainda poucos homossexuais, porque se houver mais homossexuais e mais pessoas a lidar com homossexuais torna-se um bocado mais normal, já não há tantas chacotas, o problema se calhar é as pessoas não convivem, não conhecem, não sabem o que é, se encontram há sempre aquele avanço.

Psicóloga: Mas se vocês repararem todos nós andamos com homossexuais.

Aluna: Mas para mim é indiferente porque, nunca vi assim à minha frente, quando eu vir já fico assim um bocado, mas pronto tenho que aceitar, mas é indiferente para já, quando começar a conviver já convivo.

Aluna: Eu queria falar, porque é assim, engravidar alguém ou se alguém engravidar os pais condenam, só que é assim, não se lembram que muitas vezes nunca se sentaram à beira deles para falar sobre nada e esperam que a escola seja realmente a única instituição, a única parte que pode falar connosco. É assim, eu acho que todos estes encontros que nós fazemos aqui, estes debates, eu acho que também os pais deviam estar aqui, porque realmente eles não se sabem sentar em casa à nossa beira e não falam connosco. Podem ver que nós estamos tristes, que há um porquê para isso, mas fecham os olhos. Podem saber que nós namoramos, sabem que nós estamos a crescer, que realmente eles já passaram por isso, sabem que um dia será a nossa primeira vez, não é? Só que é assim, parece que gostam de fechar os olhos a essas questões, depois ficam espantados, ficam mal e não conseguem acreditar: "Como é que a menina tão bonita e bem comportada apareceu grávida?". É isso que eu acho que estes encontros aqui deviam ser endereçados aos nossos pais. Eles preocupam-se tanto com os jovens, mas nós aprendemos, estamos aqui a aprender. É claro que as coisas acontecem, obviamente que nós começamos a nossa vida sexual e nós estamos em risco, toda a gente está em risco de engravidar ou de engravidar alguém, por isso, é assim, se realmente, isto passa por uma situação geral da sociedade não é só nós jovens entre nós, é os pais aceitarem-nos a nós e começar a aceitar falar connosco. Só assim é que vai haver muito mais compreensão por parte de todos.

Psicóloga: Só queria dar uma achega. É que às vezes os pais não se aproximam dos filhos e não falam sobre estas questões, a verdade não mente, o contrário também é verdadeiro, não é?

Professora: Todas as pessoas que estão aqui conhecem este meu discurso, que é, quando nós falamos desses assuntos na sala de aula, qual é o trabalho de casa? Falar com os pais sobre o assunto que nós tínhamos falado na sala de aula, quantos é que falaram? Portanto, há essa luta: os pais não falam, mas eles também não, eles recusam-se: "Ai não, falar com o meu pai sobre isto não." Aliás, quando nós pensamos fazer esta palestra, uma proposta que eu fiz foi de fazermos aos pais e eles disseram: "Aos pais não, professora aos nossos colegas sim, aos pais não"!


Outra professora: O mais engraçado, é que quanto mais pequenos eles são mais querem discutir estes assuntos. Consegue-se ter uma conversa com principio, meio e fim. À medida que eles vão crescendo parece que se cria ali uma barreira, sem razão de ser, porque nós estamos a falar com eles da mesma forma e eles já se esquivam muito mais! É uma coisa que eu noto nestas idades, porque tenho um filho nesta idade, é o medo, é o "Não me apetece falar sobre isso, ó não me interessa", quando eu sei que está cheio de dúvidas.

Psicóloga: Às vezes com os pais acontece assim, imaginem que ele tem 15 ou ela tem 15 anos e quando eu chego a casa ele ou ela está fechado num quarto a ver televisão, vem jantar connosco mas está 5 horas e quarto, portanto, também não me dá oportunidade de falar. Depois há este embaraço de lado a lado, diria eu

Professora: Se o pai ou a mãe fosse melhor amigo, de certeza que era ele que sabia logo as coisas em primeiro lugar.


Psicóloga: Mas eu também não sei se o pai ou mãe devem ser os melhores amigos.

Professor: Isso é muito simples de explicar. Eu sinto que é mais fácil falar com estranhos sobre coisas que a gente pensa que podem não ser tão bem aceites, porque em casa estamos à espera da recriminação, que o pai ou a mãe se aborreçam e um estranho não vai ter autoridade para aplicar uma eventual pena decorrente daquele comportamento, enquanto que o pai tem. Então há esse medo, há esse medo com as negativas nos testes, porque não se mostram metem-se na última gaveta da secretária e o pai só dá conta quando vê as notas no final do período e este assunto não foge a essa regra, quando se parte uma jarra em casa, a gente monta a jarra direitinha outra vez e espera que vá lá uma visita para aquilo se desmoronar para nós nos livrarmos daquela culpa e, se calhar, ao amigo ou ao vizinho dizemos assim, "Parti a jarra da minha mãe, mas ela não sabe". Passa tudo por aí, mas a mãe do P queria dar uma palavrinha e é uma mãe que está aqui com o filho ao lado, portanto, se calhar tem uma boa perspectiva para dar.

Mãe: Ao bocado quando vos via a falar, eu estava a pensar na minha idade e a nossa diferença não é muito grande, porque o P nasceu eu tinha 20 anos. Na vossa idade eu não tive na minha escola o que vocês estão a ter e não tive com os meus pais a relação que hoje estão a ter, nem pensar sequer eu ter o meu pai e a diferença de idades não era muito grande, numa sessão como esta. O meu pai não se sentia à vontade, porque o meu pai vem do antigo regime, ou seja, antes do 25 de Abril que foi há 30 anos. Em termos históricos a nossa sociedade, se calhar, tem uma evolução lenta, como é que os seus pais, que tipo de educação sexual os seus pais tiveram, como é que eles estarão à vontade para falar consigo se eles próprios tiveram uma adolescência muito diferente em termos de educação sexual? Portanto, eles têm que aprender uma data de coisas às quais nunca tiveram acesso e se calhar, passa por vocês, porque têm oportunidade de estar aqui numa situação destas a ouvir falar de uma data de coisas com um à vontade que eles nunca tiveram. E não se sentiam à vontade, porque não é comum, não se fala e há uns anos atrás nem se falava de sexualidade, não é?

Professora: Eu queria fazer os agradecimentos, mas antes de fazer os agradecimentos eu queria em nome pessoal e em nome de todos os professores e de todas as pessoas que trabalharam neste projecto, agradecer a colaboração do Dr., da Dr.ª Paula, da Dr.ª Teresa, mas principalmente, principalmente, aos nossos alunos, aqueles que no ano passado apareceram cá, os deste ano e principalmente do fundo do coração, aqueles que trabalharam connosco.

Aluno: Em nome de todos os que participaram na realização deste evento, queria agradecer a colaboração de todos em especial, à Dr.ª Teresa, ao Dr. Constantino Santos, à Dr.ª Paula Carvalho e à nossa profesora, a Dr.ª CÂndida, pela vossa disponibilidade e, finalmente, esperamos que esta sessão tenha contribuído de alguma forma para melhorar a sexualidade de todos.


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