Tese de doutoramento apresentada por Carlos Alberto S. Alves em 1997, na Universidade do Minho.
Resumo
Neste trabalho apresenta-se o estudo da deterioração de monumentos da cidade de Braga edificados com pedras graníticas. Os monumentos seleccionados foram o Edifício do Largo do Paço, formado por três corpos de várias épocas e estilos (medieval, renascentista e barroco), o Museu dos Biscainhos, de estilo barroco, fundado no século XVII e o edifício da Assembleia Distrital. Na construção destes monumentos foram aplicadas rochas graníticas regionais. O granito de Braga, com diferentes graus de meteorização traduzida pela coloração amarelada das pedras, é o material pétreo com maior representatividade nos monumentos da cidade, seguido, com muito menor frequência, pelo granito de Gondizalves.
São estabelecidos os principais quadros de deterioração destes monumentos que permitem reconhecer as principais patologias (placas, escamas, desagregação granular e eflorescências) e os principais padrões de distribuição destas patologias.
Nas eflorescências foram identificados vários minerais salinos: halite, nitratite, niter, calcite, trona, thenardite, mirabilite, hexahidrite, epsomite, gesso, aptitalite, singenite e darapskite. Estes minerais podem formar diferentes associações mineralógicas, mas o traço comum é a presença de gesso. As placas e escamas têm, em geral, uma mineralogia salina monótona, caracterizada pelo gesso. As escamas existentes no edifício da Assembleia Distrital constituem uma situação particular em que, para além de gesso, se identificou halite. Na desagregação granular também está presente gesso, embora a identificação das fases salinas nesta patologia se torne problemática. A maior dificuldade analítica relativamente à caracterização da desagregação granular deve-se à forte contaminação de minerais do substrato granítico, dificultando a obtenção de refinados de minerais salinos, e ainda devido à grande dispersão das composições do extracto solúvel. O tratamento com os diagramas SO42- - (Cl-)2 - (NO3-)2 e Ca2+ - (K+)2 - (Na+)2, permitiu distinguir tendências de diferenciação salina relacionadas com a distância ao pavimento, as condições de exposição e o tipo de patologia.
As características de transferência de fluidos, que controlam a penetração das soluções salinas nestes materiais geológicos, foram estudadas em amostras de pedreiras e afloramentos do granito de Braga e do granito de Gondizalves. Apesar dos valores relativamente baixos de porosidade livre, quer do granito de Braga (0.64%-7.19%), quer do granito de Gondizalves (2.32%-7.31%), os valores de taxas de transferência capilar daquelas duas fácies podem ser considerados significativos. Estas taxas de transferência capilar são semelhantes ou superiores aos valores conhecidos em rochas sedimentares e vulcânicas muito mais porosas. O estudo petrográfico das estruturas de porosidade mostrou que estas elevadas taxas de transferência capilar se devem ao sistema fissural, homogéneo e bem interconectado, que se desenvolve nos granitos meteorizados.
A análise das potenciais fontes de poluição salina e das características da mineralogia salina, permite estabelecer os diferentes sistemas salinos. Um sistema salino comum aos monumentos é marcado pela presença de gesso e corresponde à ascensão capilar de soluções a partir do solo. Outros sistemas salinos são marcados por determinados sais, que não o gesso, e são consequência de utilizações peculiares de natureza antropogénica. O estabelecimento dos sistemas salinos e as características de transferência de fluidos permitem investigar os mecanismos de deterioração: sobressaturação intensa das soluções, levando à cristalização dos minerais salinos no interior das pedras.
Na sequência deste estudo da deterioração dos monumentos ponderam-se as diferentes medidas de intervenção propostas na bibliografia com vista à Conservação e Restauro. A forte contaminação salina é um factor importante a ter em consideração nas medidas a implementar para efeitos de conservação do Património Construído.