O maciço granítico de Peneda-Gerês. Petrologia, mineralogia e geoquímica

Trabalho de síntese apresentado por Anabela Carreira Mendes em 1994 no âmbito das PAPCC, 157p.

Resumo
No extremo NE do Minho localiza-se o maciço de Peneda - Gerês que, no contexto dos granitóides hercínicos da Península Ibérica, constitui um bom exemplo de um batólito compósito e zonado pós-F3. É um maciço circunscrito, discordante em relação ao encaixante constituído dominantemente por granitos sin e tardi-hercínicos, ocorrendo na bordadura W e SE rochas metassedimentares do Silúrico.

Este maciço encontra-se espacialmente associado às falhas NNE de Gerês - Lovios e de Tibo - Gavião (Serra da Peneda). É composto por três fácies graníticas grosseiramente concêntricas (granito do Gerês, de Paufito e de Illa) e uma fácies aflorando em manchas irregulares nas fácies externas (granito de Carris). O granito mais externo e extenso, granito do Gerês, é biotítico porfiróide de grão grosseiro e frequentemente de cor rósea. Em contacto geralmente gradual com este encontra-se o granito de Paufito, que aflora na Serra da Peneda e sobretudo em Espanha. É biotítico porfiróide de grão médio, mas inequigranular para o interior do maciço. Através do decréscimo da granulometria e o aumento de moscovite, passa-se à fácies granítica interna de duas micas e granular de grão médio a fino, o granito de Illa. Em manchas, sobretudo no granito do Gerês, aflora com contactos bruscos mas interdigitados, um granito biotítico de grão fino, por vezes porfiróide, designado por granito de Carris. As relações de contacto sugerem sincronismo de instalação de todos os granitos do maciço.

Estes granitos são essencialmente peraluminosos com baixos índices de aluminosidade. O granito de Illa possui carácter peraluminoso mais acentuado, enquanto que o granito do Gerês é caracterizado pelos valores mais baixos, ocupando o granito de Paufito posição intermédia. Os granitos presentes apresentam características de granitos tipo I muito diferenciados e, à excepção do granito de Carris, pertencem à série com ilmenite.

Os dados geoquímicos sobre rocha total e fases minerais revelam a individualidade composicional do granito do Gerês e uma continuidade composicional e evolutiva entre os granitos de Paufito e de Illa. Algumas das amostras pertencentes ao granito de Carris possuem composições químicas idênticas ao granito de Paufito, enquanto que outras amostras revelam identidade composicional com o granito do Gerês. Esta variabilidade geoquímica está de acordo com a variabilidade petrográfica observada nestes corpos.

Os granitos do Gerês e de Paufito - Illa apresentam evoluções químico-mineralógicas internas cujas características podem ser interpretadas como tendências primárias controladas por um processo de cristalização fraccionada. Os resultados da modelização deste processo permitem considerar esta hipótese como válida.

No granito do Gerês as características químico-mineralógicas, tipologia dos zircões e composição química da biotite apontam para uma afinidade subalcalina (ferropotássica). No caso dos granitos de Paufito e Illa, através da tipologia dos zircões e do diagrama químico-mineralógico X vs. Or*-MM*, concluiu-se serem igualmente granitos do tipo subalcalino embora o quimismo da biotite os posicione no domínio aluminopotássico.

As baixas razões isotópicas 87Sr/86Sr iniciais referidas na literatura para o granito do Gerês sugerem a intervenção de componentes mantélicos e/ou infracrustais na génese destes magmas. De facto, geram-se num período de forte relaxamento de tensões, propício à injecção na crusta de magmas básicos provenientes do manto superior e consequente indução de anatexia crustal.

A integração dos dados de campo, petrografia, mineralogia e geoquímica permitem formular as seguintes hipóteses genéticas:
O maciço de Peneda-Gerês resulta da ascenção e implantação subcontemporânea de dois líquidos graníticos distintos não miscíveis de afinidade subalcalina.
O granito do Gerês constitui a fácies mais externa do maciço, tendo evoluído por cristalização fraccionada in situ. O termo granítico mais evoluído estaria representado por corpos leucograníticos de grão fino que ocorrem incluídos no granito de Gerês (região da Serra da Peneda).
Durante a sua ascenção o magma do Gerês teria englobado e transportado pequenas massas de magma de Paufito (produzindo-se fenómenos locais de interacção magmática), representadas por alguns dos corpos graníticos de grão fino associados ao granito de Gerês (região de Borrageiro - Carris - Las Sombras).
O magma de Paufito evoluiu por cristalização fraccionada centrípeta in situ. O termo granítico menos diferenciado encontra-se representado pela fácies de posição intermédia no maciço, o granito de Paufito, enquanto que o granito de Illa representará o termo composicional mais evoluído e ocorre no núcleo do maciço.

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