Ponta do Telheiro

De cima para baixo observa-se:

a - A superfície aplanada onde se encontram preservadas cascalheiras correspondentes a uma praia levantada do Quaternário (nível dos 30m), não visíveis na fotografia.

b – A Formação do Grés de Silves, do Triássico ( 250 a 205 Ma), datada por uma associação fossilífera pobre, com ossos de peixes estegocéfalos, bivalves (euesterídeos) e pólens. A unidade é constituída por bancadas de arenitos e siltitos avermelhados, por vezes com intercalações pouco espessas de conglomerados. As bancadas areníticas apresentam-se maciças ou com estratificação cruzada de larga escala e os siltitos podem apresentar laminação cruzada associada a ripples de corrente. As bancadas expostas no afloramento correspondem à parte inferior da unidade e têm espessura total da ordem dos 8m. A tonalidade avermelhada dos sedimentos (indicando a presença de óxidos de ferro) e as estruturas sedimentares sugerem deposição na parte intermédia de leques aluviais desenvolvidos em região continental com clima árido (Palain, 1976).

c – Discordância angular dos Grés de Silves sobre os turbiditos da Formação da Brejeira. Esta discordância abarca o período de tempo correspondente a 55 Ma, durante o qual se deu a elevação e erosão de parte significativa da Cadeia Orogénica Varisca, admitindo-se terem sido arrasados entre 3 a 5 Kms da crosta continental.

d – Formação da Brejeira, a unidade mais recente do Grupo do Flysch do Baixo Alentejo, com idade compreendida entre o Namuriano Médio (320 Ma) e o Vestefaliano Superior (305 Ma), idade esta estabelecida com base em associações fossilíferas de amonóides e miosporos (Oliveira et al., 1979; Korn, 1997; Pereira, 1999). É constituída por espessa (> 1000m) sequência turbidítica formada por alternâncias de xistos e grauvaques. Na figura, as bancadas de grauvaques têm espessuras de ordem centimétrica a decimétrica e aparecem em relevo devido à sua maior resistência à erosão. Observação cuidada destas bancadas mostra que no seu interior apresentam granoselecção, laminação paralela e cruzada (ritmos de Bouma), na base figuras de carga, de arraste e turbilhonares (flutes), e no topo marcas de corrente. A unidade apresenta-se afectada pela Orogenia Varisca, caracterizada principalmente por dobras com clivagem xistenta associada, de que as dobras no centro da fotografia são excelentes exemplares. Na fotografia são ainda visíveis pequenas falhas inversas, com topo (aparente) para Norte, afectando as bancadas turbidíticas: Estas falhas desaparecem na discordância angular.

e – Superfície actual da plataforma de abrasão marinha, predominantemente rochosa devido à forte acção erosiva do mar.

Referências
Korn, D., 1997 – The Palaeozoic Amonoids of the South Portuguese Zone. Mem.33. Inst. Geol. Mineiro
Oliveira, J. T.; Horn, M & Paproth, E., 1979 – Preliminary note on the stratigraphy of the Baixo Alentejo Flysch Group , Carboniferous of Portugal, and on the palaeogeographic development compared to corresponding units in Northwest Germany. Comun. Serv. Geol. Portugal, 65:151-168
Palain, C., 1976 – Une série detritique terrigéne. Les Grés de Silves: Trias et Lias Inferieur. Mem. 25. Serv. Geol. Portugal
Pereira, Z., 1999 – Palinostratigrafia do Sector Sudoeste da Zona Sul Portuguesa, Comum. Inst. Geol. Mineiro. 86: 25-58