A decomposição de espectros de difracção de raios X no estudo de minerais de argila - um exemplo do Complexo Vulcânico de Lisboa

Brilha J.B., Sequeira Braga M.A.

Apresentado no IV Congresso Nacional de Geologia - Porto
Memórias nº4 do Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico da Fac. de Ciências da Univ. do Porto, 613-617, 1995

Para obter o resumo completo pode contactar os autores ou o volume dos resumos do Congresso.

Introdução
O avanço das técnicas analíticas e informáticas, com a consequente ligação entre o microcomputador e o equipamento de DRX, veio facilitar o aparecimento de um novo e vasto conjunto de dados que têm facilitado a caracterização mineralógica, em particular no estudo dos minerais de argila. Nas análises por DRX, o microcomputador tem sido utilizado em três vertentes essenciais:
i) Elaboração de listagens de reflexões (peak-lists), análises qualitativas (matchs) e análises quantitativas; CALVERT et al. (1989), POST & BISH (1989), POPPE & DODD (1989), SMITH (1989), HOSTERMAN & DULONG (1989), BISH (1993) e EBERL & BLUM (1993);
ii) Simulação de espectros de DRX para determinadas condições experimentais e determinadas composições químico-mineralógicas; GARVIE (1993a, 1993b), WALKER (1993), PEVEAR & SCHUETTE (1993), REYNOLDS (1985, 1993), PLANÇON & DRITS (1994) e DRITS & PLANÇON (1994);
iii) Decomposição de espectros de DRX, bastante útil no estudo de amostras poliminerálicas com reflexões sobrepostas. Este procedimento possibilita também a determinação quantitativa de algumas características como o tamanho das particulas, grau de cristalinidade, grau de hidratação ou detecção da ocorrência de substituições cristalinas, em várias amostras de um mesmo perfil ou afloramento; JONES (1989), HOWARD & PRESTON (1989), LANSON & BESSON (1992), LANSON & VELDE (1992), JONES & MALIK (1993) e ROBINSON & BEVINS (1994);
Neste trabalho apresentam-se e interpretam-se difractogramas de misturas de argilas padrão naturais, consideradas como amostras de referência e posterior tratamento de decomposição. É ainda apresentado um exemplo de decomposição de um espectro de DRX, aplicado a uma amostra de argila proveniente da alteração hidrotermal do basalto de Lexim, Complexo Vulcânico de Lisboa.


Materiais e métodos
As análises de DRX aqui apresentadas foram executadas num difractómetro Philips PW-1710, equipado com monocromador de grafite, fenda de divergência automática e radiação de Cu (40 kV e 30mA). Este equipamento encontra-se conectado a um microcomputador instalado com o programa Philips APD - Ver. 3.6a, que possibilita o armazenamento e algum tratamento dos dados das análises efectuadas. Para a decomposição dos espectros utilizou-se o programa DECOMPXR, instalado num microcomputador (486 - 66Mhz). Este programa fornece as sub-rotinas necessárias para a conversão dos dados provenientes do APD no formato legível pelo programa de decomposição. O difractograma final, já com a decomposição efectuada, pode ser impresso ou transferido para qualquer outro programa (em PC ou Macintosh) de processamento de texto ou de desenho (BRILHA, 1992).
O DECOMPXR fornece informações precisas sobre a posição, largura e intensidade das reflexões previamente seleccionadas pelo utilizador, representativas de determinadas espécies minerais. Todavia, não são fornecidas informações sobre a natureza das fases mineralógicas presentes nas amostras, permanecendo ainda essa tarefa a cargo da sensibilidade e experiência de cada investigador. Os algoritmos usados neste programa, assim como as suas limitações e desempenhos podem ser consultados em LANSON (1990, 1992), LANSON & CHAMPION (1991), LANSON & BESSON (1992) e LANSON & VELDE (1992).


Considerações finais
Nos exemplos aqui apresentados, concluímos que o programa DECOMPXR pode ser muito útil no estudo, por DRX, de amostras constituídas por misturas de minerais de argila. Ângulos inferiores a 4° dois teta parecem constituir uma limitação a este programa. No entanto, como apenas alguns interestratificados regulares (relativamente raros na Natureza) possuem reflexões nestes pequenos valores angulares, esta limitação não é, por isso só, muito significativa.
Apesar de a utilização deste programa necessitar, por parte do utilizador, de larga experiência na manipulação de dados obtidos por DRX, assim como na utilização de equipamento informático, ele constitui uma útil e fiável ferramenta no estudo de minerais de argila. Este estudo beneficia bastante se for complementado com o programa NEWMOD (REYNOLDS, 1985) que permite a simulação de espectros de DRX para diferentes minerais de argila.


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