Tema do Curso

Este curso de mestrado pretende fazer uma abordagem às questões geológicas associadas a estratégias e acções de Conservação da Natureza. De um modo geral, a Conservação da Natureza incide fundamentalmente nos temas relacionados com a preservação da fauna e da flora, sendo as questões geológicas raramente tratadas. Constituindo a Geodiversidade um suporte fundamental para o desenvolvimento e evolução de qualquer forma de vida, incluindo a humana, é difícil de compreender que as questões relacionadas com a conservação da Geodiversidade raramente sejam tratadas com o mesmo grau de profundidade.


Enquadramento

As questões relacionadas com a Conservação da Natureza apresentam uma importância crescente na sociedade actual. O aumento demográfico, a pressão urbanística em determinadas áreas, a exploração desregrada dos recursos naturais, entre outros, têm contribuído decisivamente para uma evidente diminuição de áreas onde a Natureza permanece inalterada. As políticas de Conservação da Natureza adquiriram recentemente uma importância acrescida, dada a sua implicação nos projectos e acções promotoras de desenvolvimento sustentável.

A Conservação da Natureza deve ser considerada de forma holística e deve ter em conta, antes de tudo, a preservação dos valores geológicos e biológicos de uma dada região. Dada a impossibilidade de implementar este conceito de forma generalizada em todo o território, optou-se por desenvolver medidas conducentes à Conservação da Natureza em áreas protegidas, não esquecendo a vertente cultural e social das populações que habitaram ou habitam estas áreas. O conceito de Parque Nacional está associado à criação, em 1872, do Parque Nacional de Yellowstone nos Estados Unidos da América. Desde então, as perspectivas de gestão de áreas protegidas têm sofrido diversas evoluções. Em Portugal, o actual sistema de áreas protegidas é constituído por mais de 35 unidades entre Parques Nacional e Naturais, Reservas Naturais, Monumentos Naturais, etc. Para além destas unidades da responsabilidade do Instituto da Conservação da Natureza, inúmeras autarquias gerem espaços naturais protegidos de âmbito local.

A necessidade de preservação da Biodiversidade, uma das componentes do Património Natural, é uma ideia já relativamente bem implantada na sociedade. Porém, tem sido subvalorizada a importância da outra componente do Património Natural: a Geodiversidade. A Geodiversidade, termo que apenas surge no início da década de 90, corresponde à variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos activos geradores de paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que constituem a base para a vida na Terra. Infelizmente, a Geodiversidade não tem merecido, nas políticas nacionais e internacionais, o mesmo destaque que a Biodiversidade. É mais fácil envolver as pessoas na preservação de uma dada espécie animal do que na conservação de um afloramento rico em fósseis com alguns milhões de anos. O carácter inanimado do Património Geológico e a falta de sensibilidade para a Geologia da maioria da população, conduz a este afastamento da sociedade face à necessidade de implementar medidas de Geoconservação.

As questões relacionadas com a inventariação, caracterização e valorização do Património Geológico são muito recentes, tendo só sido despoletadas na década de 90 (do século XX). A nível internacional, o 1st  International Symposium on Geological Heritage decorre em 1991 em Digne (França). Em 1993 é criada a ProGEO - European Association for the Conservation of the Geological Heritage. Apenas em 1996 o 30th International Geological Congress consagra, pela primeira vez, uma sessão a este tema. No mesmo ano a International Union of Geological Sciences cria um Grupo de Trabalho (Task Group on Global Geosites) com o objectivo de promover o inventário de locais de interesse geológico com relevância mundial. No entanto, alguns países tinham já encetado algumas iniciativas no final da década de 80, nomeadamente os chamados países do leste europeu. A primeira iniciativa nacional de carácter científico e alargada a toda a comunidade apenas ocorreu em 1998, por ocasião do V Congresso Nacional de Geologia. Desde essa data, as iniciativas têm-se multiplicado, quer de carácter científico, quer ao nível da implementação de acções de inventariação e caracterização do Património Geológico Português.