GeoFórum 1999/2000

Evolução geodinâmica e paleogeografia da Zona Sul Portuguesa

Resumo da conferência proferida a 10 de Abril de 2000 pelo Prof.Dr.José Tomás de Oliveira (Instituto Geológico e Mineiro e Dep. de Geologia da Fac. de Ciências da Univ. do Porto)

Resumo

A Zona Sul Portuguesa constitui uma entidade bem individualizada no contexto da geologia do Maciço Hespérico, facto reconhecido desde longa data( Lotze, 1945 ) e que tem sido objecto de sucessivas interpretações (Carvalho et al., 1971; Ribeiro et al., 1990). Em termos de interpretação tectono-estratigráfica são reconhecidos quatro domínios (ou sectores):

  1. Antiforma do Pulo do Lobo, constituida por uma sucessão estratigráfica predominantemente detrítica, com idade de Devónico Superior ou mais antigo, na base da qual se intercalam rochas básicas de afinidade oceânica. Esta estrutura contacta, a norte, com a Zona de Ossa Morena através do Complexo Básico-Ultrabásico de Beja-Acebuches, que tem sido interpretado como resto de um crosta oceânica obductada (Munhá et al., 1986; Quesada et al., 1994). Neste contexto geodinâmico, a Antiforma do Pulo do Lobo é vista como representando um prisma acrecionário instalado sobre uma zona de subducção Recentemente, Silva 1998, considera que aquele complexo tem carácter intrusivo, retirando-lhe assim o significado geodinâmico que lhe tem sido atribuído.
  2. Faixa Piritosa, representada por uma cintura vulcânica de grande envergadura, que resultou da ruptura da crosta continental, durante o Devónico Superior e Carbónico Inferior, sobre a qual estava instalado um mar epicontinental. A este domínio está associada uma das principais províncias metalogénicas do mundo.
  3. Grupo do Flysch do Baixo Alentejo, que representa a sedimentação detrítica profunda, do tipo turbidítico, que foi sucessivamente preenchendo depressões geradas na frente da onda orogénica, em movimento progressivo para sudoeste, desde o Viseano Superior até ao Estefaniano Inferior.
  4. Sector Sudoeste, com sedimentação siliciclástica em ambientes de margem contiental, durante o Devónico Superior, à qual se seguiu o desenvolvimento de uma plataforma mista argilo-carbonatada, que se manteve estável até ao Namuriano Superior, altura a partir da qual passou a ficar integrada na bacia profunda com sedimentação turbidítica.

A ZSP apresenta estruturação tectónica dominantemente orientada para NO-SE, a qual resultou de dois episódios compressivos principais, materializados por dobras, falhas e carreamentos ( Silva et al., 1990) O metamorfismo é de grau baixo, a norte, a quase nulo, a sul ( Munhá , 1983)

Em termos paleobiogeográficos, existe clara afinidade entre as associações fossilíferas da ZSP (principalmente amonóides e palinomorfos) e as do Sul de Inglaterra e Norte da Alemanha, para o Período Carbónico (Oliveira et al. 1979;, Pereira, 1997, Korn, 1997). Para o Devónico as correlações são mais imprecisas posto que na ZSP só são conhecidas terrenos do Devónico Superior e, em geral, pouco fossilíferos.

A exemplo das associações fossilíferas, também as sequências estratigráficas apresentam muitas semelhanças, tanto ao nível das idades como das litologias (sedimentação detrítica dominante, mesmo tipo de vulcanismo, presença de ofiolitos, etc) e mesmo da deformação tectónica (Oliveira e Quesada, 1998) Estes factos fazem supor que estas três regiões faziam parte da mesma área deposicional, provavelmente situada na placa Avalónia, justaposta passivamente ao supercontinente Laurusia durante a Orogenia Caledónica. Esta margem estaria separada do supercontinente Gondwana pelo oceano Rheic. O fecho deste oceano ter-se-á iniciado no Devónico Inferior, altura em que se deram os primeiros episódios colisionais entre os dois supercontinentes, e culminou com a colisão e o levantamento generalizado da Cadeia Varisca, no Carbónico Superior-Pérmico. Silva (1998, 1999) apresenta interpretação distinta para a génese da cadeia Varisca, considerando-a predominantemente associada a movimentos transcorrentes em regime intracontinental, não reconhecendo, por conseguinte, a existência do oceano Rheic.

Referências

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